domingo, 14 de outubro de 2012

Amanhecer Cinza

Descrever pessoas, paisagens. Descrever momentos, sentimentos, horas e sonhos. Descrever fisicamente, internamente. Descrever algo indescritível: um amanhecer.

Saber que um dia acabou de morrer, e outro está em seu lugar. Olhar pela janela e ver algo tão esplendoroso que, ao mesmo tempo, se torna vazio e sem porquê.

Acreditar que há vida após aquela mistura de luzes. Azuis, amarelas, rosas. Acreditar que sonhos podem se tornar realidade só em olhar pra um espetáculo que a natureza nos proporciona. Acreditar em si, nas pessoas. No nós.

Sonhar. Olhar para o amanhecer e imaginar que - neste dia que está à caminho, por passos calmos - todos os seus sonhos se realizarão. Sonhos, desejos, manias. Tudo, tudo acontecendo à passos leves, à passos calmos.

Pensar, refletir, voltar aos sonhos infantis. Ser criança, sorrir por ter ficado a noite inteira em claro, mesmo que tenha sido aos prantos - é, meu caro, ser adulto dói -, só pelo fato de estar cara-a-cara com algo tão magnífico.

Ninguém liga para isso. Eu não ligo. E, como podemos ver um amanhecer bonito como em desenhos? Afinal, tudo que se vê agora é o cinza das fumaças de fábricas, o cinza dos rostos das pessoas rotineiras na rua, o cinza de sonhos deixados pra trás, o cinza do arrependimento. O cinza que a vida se tornou. E só.



E só?