quarta-feira, 20 de abril de 2011

"Querida neta,

Você sabe que as notícias por aqui correm mais rápidas do que o Dumbo conseguia voar, não é? Pois bem, por isto estou te escrevendo... Esta coisa de tecnologia e falar por computador não é a mesma coisa do que lhe dar um pouco de minhas palavras escritas.

Soube que você tem andado triste, que já não consegue mais nem controlar suas próprias lágrimas, anda pequena... Posso chutar que é por causa de um coração ferido?

Ora, quisera eu que você pudesse ter nascido em minha época. Rapazes brigariam até a morte por uma guria como você. O que aconteceu com os cavalheiros? Preferiram optar pelos dragões enquanto uma princesa como você está presa em uma torre alta?

Lembra quando seu velho avô te pegava no colo e dizia que você era uma princesa e que um príncipe em um cavalo branco viria te resgatar, porém antes disso teria de ter minha permissão? Pois bem, você era novinha demais para eu alertar este seu coração que antes disso você sofreria algumas vezes. Por isso, não posso dizer que será a última vez que você irá chorar, mas posso te dizer que irá passar. Porque tudo passa, minha pequena.

Seu avô magoou sua avó uma vez, porém veja só... Estamos juntos há cinqüenta anos. Brigamos sim, e você sabe, mas passa. Até porque já somos velhos demais para chorarmos por algo que não irá mais mudar: nosso casamento.

Mas não desejo que você leve a vida que eu e sua avó levamos, não que não seja boa, mas você é a minha princesa, a primeira princesa das netas, você merece um amor igual o da Cinderela, ou o da Branca de Neve, que você insistia tanto em ver quando ainda pequena. Um amor que dure para sempre, Bebé.

E lembre que tem um velho pelas bandas de Porto Alegre que sempre vai estar torcendo por ti. Eu amo você.

Um beijo com saudades, Corintho."

terça-feira, 12 de abril de 2011

Ah, por favor, se cuida

De repente, o mundo todo passa a não ter mais tanto sentido. De repente, por apenas uma palavra, um gesto, um olhar, o mundo inteiro já nem se quer mais existe. De repente, alguém desiste do que mais se quer por achar ser o certo a fazer.

Eu não desisti, eu só...Eu só fugi. Não de você, não, jamais de você. Fugi da tristeza, das coisas que vi, das coisas que senti. Fugi achando que, um tanto longe, seria mais fácil não lembrar do seu rosto. Oh, como fui ingênua. Mesmo se do outro lado do mundo estivesse, seria quase impossível não lembrar do seu rosto. Do seu sorriso. Meu sorriso? Não, não mais meu, mas ainda sim belo.

E, mesmo antes de entrar, mesmo antes de realmente partir, eu olhei para trás. Olhei em busca de você, olhei com a esperança que você estivesse correndo e pedindo para mim não ir, para mim ficar, ficar nos teus braços. Ou simplesmente olhei com a esperança de que você estivesse lá com a mão estendida, me dando adeus. Um último adeus.

Você não estava. Ah, onde você estava? Agora a única parte de mim que sobrara neste lugar era a carta e a foto que lhe daria. Agora esta foto deve estar lá, perdida na estrada, pois eu a joguei da janela. A joguei com a esperança de que o vento a levasse até você. Com a esperança de que você a lesse e sentisse minha falta, com a esperança de que você dissesse - mais uma vez: tinha esquecido de como você escreve coisas bonitas.

Eu fui, eu fugi. Mas lembre-se, meu amor: jamais terá no mundo garota que te ame mais. E sim, eu sentirei sua falta e pensarei em você todos os dias.

Ah, por favor, ora, encarecida-mente lhe peço: se cuida. Se cuida pois agora eu já não posso mais fazer isso, se cuida pois agora já estou longe para fazer isso. Eu lhe amo.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Tanto faz se depois for nunca mais

Era meia noite, a rua estava escura, sem movimento, sem som. Era meia noite e aquela garota estava perdida a procura de algo que nem ela mesma sabia. À procura de algo que nem ela mesma sabia se queria, mas buscaria, mas iria atrás até encontrar para, só assim, ter certeza de que não era nada como ela imaginara.

A estrada até seu destino era longa, os pingos de chuva sob seus ombros trêmulos já não a incomodavam, ela pulava e driblava todas as poças de água em seu caminho. Ela estava decidida. Ela queria, ao menos naquele momento, ela queria.

Passou-se uma hora, duas horas até que, enfim, ela estava em frente àquela casa que tão bem conhecia. Pensou em bater palmas, pensou em gritar por um nome, um nome que ela conhecera bem. Só pensou. Respirou fundo e pensou em ligar: desistiu. Respirou fundo e juntou suas duas mãos na tentativa de que algum som saísse: em vão.

Andou um pouco pela frente daquela calçada, tentou olhar por entre as cortinas daquele quarto que ela conhecia como a palma de sua mão, estava tudo escuro. Pensou, mais uma vez, em ligar, só por precaução, só pra esclarecer uma dúvida, só por teimosia. Novamente desistiu.

Abaixou a cabeça, virou as costas e retomou seu caminho de volta. Toda caminhada, todas as poças e toda a chuva havia sido em vão. A garota acabou sem nem se quer um adeus, a garota estava partindo sem lágrimas nos olhos, mas de cabeça abaixada. A garota estava partindo sem o adeus que mais significaria para ela. A garota estava partindo sem uma palavra de consolo, sem um último abraço. A garota estava partindo sem ter conseguido tomar de volta o que, para ela, era o mais importante: seu coração.