segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Passado que sinto, uma dor que apago

O passado é algo que, muitas vezes, pode trazer cicatrizes doloridas. No meu caso, são mais do que cicatrizes, mais do que feridas mal fechadas. É um tipo de dor que eu, como boa burra que sempre fui, gosto de sentir. Como se fosse aquelas crianças que adoram tirar as casquinhas das feridas, cutucar pra ver se ainda dói. É uma dor gostosa, como o divertimento destas pequenas pessoas ao brincarem com as casquinhas de seus respectivos machucados.

Meu passado teve vários problemas, várias soluções. Ele foi escrito por alguém bipolar, diga-se de passagem. Como se toda minha vida fosse uma montanha-russa, daquelas que sobem e depois descem em disparada. Quando eu me via feliz vinha sempre algo e acabava com tudo, fazia minha bela montanha-russa cair em queda livre. Mas, o que seria de mim sem meu passado? Como meu presente nasceria se não fosse meu passado? Ou melhor, como eu me tornaria tão forte se não fosse as desilusões deste passado?

Engraçado, eu ainda consigo me lembrar de vários rostos de meu passado. E eu sinto saudade deles. Alguns são rostos de crianças, dos meus amigos de primeira série. Outros tantos são de familiares que se foram para sempre. Mas, o rosto que mais me machuca é o mais belo de todos: olhos azuis, pele rosada, covinhas nos cantos dos lábios, cabelos cacheados, as mais belas sombrancelhas que eu já vi e, mesmo com tudo isso, eu sinto dor ao lembrar.

Até hoje não sei ao certo quando que ele virou passado - talvez tenha sido em uma das quedas da minha montanha, ou melhor, vida. Metade de minha memória foi apagada ao ver ele partir do meu presente para o passado, uma viagem sem volta. Bom, ainda tenho lembranças dele, meros borrões. E é isto que me consome, me destrói, me martiliza. É a dor de saber que ele foi importante, e saber que eu sou incapaz de lembrar o porque de sua partida.

Se eu pudesse gritaria aos quatro cantos deste mundo: Não mexam em seus passados. Por mais que as lembranças sejam boas, por mais que seu passado seja a parte mais bonita de sua vida inacabada, por mais que a vontade seja incontrolável. Não mexam. O passado machuca, lembrar dele machuca. Sejam pelas lembranças ruins que ele te trará, ou pela saudade das lembranças boas. O passado é uma armadilha, não queira viver ele. Não queria o ontem para o seu hoje, não queira seus amigos do passado, seus familiares, namorados. Tenha foco no futuro, o passado já não existe neste momento.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Amanhecer

Descrever pessoas, paisagens. Descrever momentos, sentimentos, horas e sonhos. Descrever fisicamente, internamente. Descrever algo indescritível: um amanhecer.

Saber que um dia acabou de morrer, e outro está em seu lugar. Olhar pela janela e ver algo tão esplenderoso que, ao mesmo tempo, se torna vazio e sem porquê.

Acreditar que há vida após aquela mistura de luzes. Azuis, amarelas, rosas. Acreditar que sonhos podem se tornar realidade só em olhar pra um espetáculo que a natureza nos proporciona. Acreditar em si, nas pessoas. No nós.

Sonhar. Olhar para o amanhecer e imaginar que - neste dia que se inícia - todos os seus sonhos se realizarão!

Pensar, refletir, voltar aos sonhos infantis. Ser criança, sorrir por ter ficado a noite inteira em claro ( mesmo que por algum motivo infeliz ) só pelo fato de estar cara-a-cara com algo tão magnífico.

Ninguém liga para isso. Eu não ligo. E, como podemos ver um amanhecer bonito como em desenhos? Afinal, tudo que se vê agora é o cinza das fumaças de fábricas, o cinza dos rostos das pessoas rotineiras na rua, o cinza de sonhos deixados pra trás, o cinza do arrependimento. O cinza que a vida se tornou. E só.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Morte

Uma realidade sobre a morte: ela é tranquila.
Outra realidade: não existe ninguém com uma foice e um capuz preto.

Eu estive perto da morte uma vez em toda minha vida, e foi o momento mais calmo que eu já tive. Eu estava cansada de tudo, confesso. Estava aguniada para encontrá-la. O la se refere a morte. Então, em uma noite de céu vermelho eu decidi esperar por ela.

Nenhum barulho em toda casa, nem o de minha respiração. E de repente uma figura estranha atravessou a porta trancada de meu quarto. Era uma senhora com um vestido longo e preto, mas não havia um capuz. No lugar da foice ela segurava um guarda-chuva vermelho. Ela sorriu. Seu sorriso era tão sereno que, por segundos, esqueci quem era esta minha visita. Esqueci que ela veio apenas à procura da minha alma.

Todas as forças, antes inexistentes, voltaram ao meu controle. Eu queria perguntar o porque de sua demora, onde estaria sua foice? Minha imaginação pouco aguçada ainda via a morte como algo terrível, doloroso e amedrontador. Esta senhora mais parecia minha querida vó. Impossível, diga-se de passagem. Vovó e seus 70 anos tinham mais vida do que uma menininha de dez.

Quando resolvi respirar - pela primeira vez após longos minutos -, o inalar pareceu queimar minhas narinas. O ar estava pesado. E eu sabia o porquê. A morte estendeu sua mão pálida em minha direção, e eu, em um gesto bobo, segurei forte nela. Burrice. Ela me fez ficar de pé, suas mãos pareciam uma tecla play para ver toda minha vida em segundos.

Primeiro, vi minha infância. Não segurei o sorriso ao ver meu primeiro natal. Mamãe estava na cozinha, e papai arrumando a árvore. Papai...Minha segunda visão foi seu bigode já grisalho, seu cabelo invisível e seu sorriso amarelo pra mim. Por que ele havia de ir embora? Por que ele não ficou um pouco mais ao meu lado? Por que, dona morte? Meu primeiro beijo, meu primeiro namorado e minha primeira decepção. Por último, a morte me mostrou algo que me fez estremecer, me fez querer chorar, querer largar sua mão e dizer: Me deixa ficar, por favor, vá embora!

Todas as pessoas que eu amava estavam chorando em vida, fazendo um círculo em torno de uma lápide que dizia "Roberta de Lucena Cidade, boa amiga, boa filha, boa irmã. 1993-2010". O rosto que me fez querer largar sua mão era de mamãe. Ela estava ajoelhada, seus soluços eram como tiro no meu coração. Como eu pude? Como, por fraqueza, eu deixei quem mais me amou infeliz? Eu sempre fui fraca, eu não merecia o que receberia após a morte.

E por falar nela...Ao ver meu estado ela soltou minha mão e sussurrou algo que eu pensei ser um "sinto muito". As forças que eu tinha sentido de novo, e pela última vez, foram esvaiando, logo meu corpo caiu sob a cama novamente.

Minha alma, já nos braços daquela velha senhora, ainda viu uma última coisa. A morte se ajoelhou sob meu leito e fechou meus olhos ainda abertos. Deu um beijo em minha testa, um beijo em um corpo sem alma, e saiu. Não demoraria muito até arrombarem a porta e se depararem com aquela cena triste: uma menina de 16 anos, um sorriso, um corpo gélido, um cadáver.

A morte não é terrível, ela muitas vezes é companheira. Ela sente tristeza ao ver o que uma garota como eu fui capaz de fazer. A morte possui sentimentos. É só o trabalho dela, como você excerce o seu. Não a culpe por meu fim. Eu cavei isto, ela só atendeu meu fraco pedido.

Enquanto a mim? Não queiram saber, a eternidade é um assunto que não será abordado por mim. Não enquanto eu ainda tiver cravado em mim a dor da culpa. Perdão, mamãe.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

What's it like in NY city?

Eu estou a milhas de distância, mas, garoto, está noite você parece tão bonito...

Me deixa, talvez pela última vez, te fazer ler um dos meus textos. Me deixa te dizer o quanto eu fico feliz em ter conhecido o Rafael Padoan. Me deixa escrever este texto no presente do indicativo, como se toda minha felicidade estivesse aqui e agora...Só para você.

Deixa-me te contar algumas coisas que amenizavam a distância. Sua foto na parede, sonhar contigo, imaginar algumas cenas "eu e você" antes de dormir, escrever e, recentemente, dormir agarrada à um urso gigante que eu ganhei. O nome dele é Rafa, e ele é a coisa mais gostosa e peluda que já vi.

Você merece um prêmio por ter aguentado uma garota com o gênio tão difícil feito o meu por tanto tempo sem (ou quase nunca) reclamar. Mas isto não importa, o amor é cego. E, depois disso, até irracional.

Deixa eu adiantar à ti que - em meu coração, meu corpo, alma, pensamento - tu sempre estará presente, por perto. Tu sempre será meu. Mesmo não sendo mais.

Se eu pudesse arrancar a dor que, neste momento, faz meu coração chorar...Bem, eu não arrancaria. Esta dor, apesar de poder ter sido evitada, vem acompanhada de lembranças. Lembranças muito mais fortes do que qualquer outra pessoa que já se tocou. São lembranças de um primeiro amor, lembranças verdadeiras, lembranças lindas, gostosas.

Um último pedido? Não posso. A única coisa que eu gostaria de pedir neste momento está fora do meu alcance. Não é nem perdão, nem pedir pro tempo voltar. É pedir pra continuar do teu lado, vivendo tua vida junto a ti, mesmo que distante. É ser mais que uma amiga, menos que uma irmã. É ser sua namorada, sua amante, sua companheira...É pedir pra continuar a crescer do teu lado, até o momento em que não sobre mais nada de toda minhas birras. É pedir você. Aqui. Agora. Pra mim.

"Seja feliz, fica com Deus. Se der saudade me liga, adeus" Não, adeus não! De pagode é melhor algo do tipo: Diz que vem agora, diz que dá uma chance pra nós dois. Trás você de volta, deixa o passado pra depois. E vem me dar prazer, o nosso filme vai ser..um romance eu e você.

Da menina que mais te amou nesse mundo, da menina que está te pedindo pra voltar, do seu eterno chaveirinho...Roberta.

Nada

Eu gostaria de ter sobre o que escrever, de ter sobre quem escrever. Gostaria de lhes contar algo sobre minha vida, sobre até este dia que estou passando, mas estou seca. Seca de sentimentos, seca de palavras, seca da dor, seca do amor. Minha alma se tornou um vácuo, um poço fundo e escuro. Sinto começar este texto com palavras tão duras, mas isto é o poder que elas possuem.

Palavras, usadas corretamente, podem ser uma arma. Um objeto pontiagudo capaz de perfurar o mais profundo silêncio. Palavras na boca de pessoas erradas machucam, ferem, fazem sangrar. O dom da palavra deveria ter sido dado à quem realmente sabe usar, e eu estaria fora desta lista. O máximo que faço é descrever sentimentos balbuciados. Esqueçam isso.

Voltando ao meu vácuo...Foi depois da noite de ontem que ele apareceu. Digamos que ele sempre esteve aqui, o único porém é o fato dele ter sido submerso por vários sentimentos - oras de amor, oras de dor. Está certo que pessoa nenhuma tem o direito de tirar, de uma vez só, todos sentimentos da outra. Mas fizeram isso comigo. Não importa. Não. Importa.

Bom, um dia foi o suficiente para eu me acostumar com o poço que se abriu dentro de mim. Posso dizer que ele é até conveniente. Tendo ele não preciso sofrer por amor, morrer de dor, chorar por fins não felizes. Eu só sou o nada. É, assim que me sinto. Um corpo, orgãos e nada. Os desenhos de coração não fazem mais sentido agora que sei que, na verdade, a forma do coração é a mesma de minha mão direita fechada.

Não fiquem com pena de mim, meus caros. Não me rotulem de louca. Se eu pudesse sentir algo diria estar feliz. Finalmente, depois de anos, senti toda aquela dor insuportável ir embora. Se me restasse algum pingo de sentimento, podem ter certeza, eu diria para este vácuo: Obrigada, muito obrigada! Mas agora, ao dizer isto, sai sem sentimentos, sem emoção. Mesmo assim, obrigada por ter arrancado toda está agunia, vácuo. E, ah...Por favor, não me deixe mais.

"Porque, se você não sabe se amar, você não sabe amar mais ninguém"

Uma única frase que, provavelmente, para você não tem lá o tanto sentido que teve para mim. Foi uma frase dita por uma amiga, uma frase diretamente destinada para outra pessoa, mas que teve o maior e melhor sentido para mim.

Fui tomada pela realidade das palavras, pelo poder que elas possuem. Fui tomada pela verdade de não conseguir nem amar a mim própria e, logo, descobri que por isso ninguém mais poderia me amar, ou me querer bem, por muito tempo.

Descobri que passei tempo demais da minha vida xingando as pessoas, os lugares, os momentos, o meu coração. Descobri que eu não sou especial. Não sou diferente de ninguém e, por isso, devo ser tratada igualmente.

Descobri, também, que minha vida não é um livro. Ninguém conta a "história de Roberta de Lucena". Ninguém tá me espiando, não vivo em um reality show ridículo. Descobri que afastei, por anos, amigos e familiares. Mas, a pior das descobertas é que eu tive a melhor pessoa do mundo ao lado meu e, como boa inútil que fui durante 16 anos, consegui afastá-lo de mim.

E, ah! Ah se eu pudesse voltar no tempo, ah se eu pudesse mudar meu futuro. Mas não posso. A única coisa que posso neste momento é conviver com minha própria dor. Curá-la? Impossível. Amenizá-la? Por pouco tempo. Eu tenho uma companheira eterna...e o pior de tudo é que ela veio depois do melhor garoto deste mundo.