terça-feira, 20 de julho de 2010

Pétalas


Um quarto branco e várias pétalas de rosa espalhadas pelo chão. Este era meu momento. Nosso momento.

Sorri ao ver seus olhos atenciosos me fitando, tentando decifrar qualquer coisa que fosse. Tentando encontrar, em cada vão do meu rosto, sentimentos. Como ele não conseguia enxergar toda minha ansiedade e felicidade?

Fechei os olhos e esperei seus lábios tocarem os meus. Eu nunca havia me sentido assim. Eu nunca estive tão apaixonada a ponto de me entregar assim.

Eu era dele, não havia mais dúvidas disso. A cada toque das suas mãos macias, a cada sussurro de “eu te amo” em meu ouvido eu tinha mais certeza do que estava fazendo.

Com o passar das horas e com as estrelas que tomavam conta do céu eu já não estava mais ansiosa e, sim, satisfeita. Feliz. Ainda mais apaixonada.

Eu me sentia de alguma forma, mulher. E sentia o amor, e isto até chegava a ser engraçado. Eu jamais havia sentido amor recíproco e hoje, particularmente hoje e para sempre, eu respirava amor verdadeiro.

Adeus

- Um brinde, meu caro espelho. À nosso primeiro mês de solidão. Levantei a primeira taça da minha segunda garrafa de vinho enquanto olhava as marcas deixadas em meu rosto por uma leve mistura de lágrimas e delineador preto.

Um mês. Trinta longos dias desde que ele partira. Como eu pude? Como? Qual é o meu problema? Por que eu não cuidei dele melhor? Eu sabia do seu longo histórico de doenças, sabia que este dia chegaria. Eu temia isto.

Ainda me lembro do seu rosto pálido e seus lábios – antes tão vermelhos e vivos – sussurrando alguma coisa que pensei ter sido “seja forte”. Ainda lembro-me bem de seus olhos fechando vagarosamente, como se quisessem dormir para sempre. Como se precisassem fechar, como se já não houvesse força nenhuma naquele corpo para mantê-los abertos, vivos, serenos, cheios de paz.

- Do que adianta, não é? Irá chorar agora, você tem certeza que irá fraquejar? Ele mandou você ser forte. Seja forte!

Foram minhas últimas palavras antes de atirar a taça no chão, deitar sobre a velha cama onde ele havia partido e chorar.

De nada importava a vida. Certamente as paredes não contariam para ninguém este meu momento de fraqueza. Eu precisava disso. Necessitava deste choro como se fosse o único modo de me manter viva. Me sentir viva. O único modo para mostrar para as cortinas – que neste momento tampavam o indesejado sol – que eu estava viva. Que havia um milhão de motivos para eu continuar com a vida. Um milhão de motivos que algum dia eu descobriria. Sem cessar eu buscaria um destes motivos.

Ps: Desculpe, eu não posso desistir.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cinderela

Era sábado à noite, uma das noites mais esperadas para aqueles acostumados a sair. A noite mais aguardada para esquecerem os problemas dos cinco dias antecedentes. A noite que, por muito tempo, foi aguardada por aquela menina. “O começo de sua adolescência” à diziam. Ela finalmente se enxergaria como normal aos olhos alheios. Ela sairia.

Delineador nos olhos, vestido preto e a garotinha da mamãe já não parecia mais tão inha. O sorriso no seu rosto entregava toda ansiedade que ela sentira, seus olhos entregavam a satisfação do jeito como ela estava. Fazia tanto tempo que não sorria para o espelho.

Finalmente chegou. O relógio marcava 22h30 quando ela entrou pela porta da frente. Fitava tudo com cuidado, maravilhada com cada detalhe. A música ainda estava baixa e, sentada no sofá com três amigas, ela ria de algo que não consigo lembrar.

Meia noite. Agora, com a música alta e o banheiro protagonizando a cena de uma garota bêbada, o jeito era dançar.

Cantava as músicas que sabia, dançava no ritmo das que nunca ouviu, e foi assim até seus olhos encontrarem o que ela não procurava.

Ficou difícil acompanhar o ritmo, ela já havia esquecido todas as letras decoradas, e respirar parecia ser impossível. Ele era lindo.

Por mais que a garota procurasse, ela já não via suas amiga. Ela não conseguia ver mais ninguém. Seus olhos inconsequentes não desgrudavam do garoto e, quando ele olhou para ela, a garota não se conteve. Sua nuca arrepiou e seus lábios, como em câmera lenta, formaram um sorriso.

O tempo ia passando, nenhum garoto naquele lugar era mais bonito que ele. As músicas acabavam e começavam – feito um ciclo -, as luzes piscando já não a incomodavam como antes. A única coisa que a perturbava era a forma tão intensa que ela queria aquele garoto.

2h45 da manhã. Aconteceu. Ele sussurrou – ou talvez até gritou – seu nome perto do ouvido da garota, e isso explica o porque do arrepio voltar. Seus lábios delicadamente, e sem acompanhar a música barulhenta, tocaram os da garota e, a partir dali, toda aquela noite fez sentido para ela. Nunca pensara que um sábado à noite pudesse trazer tanta magia.

3h38 da manhã. Um encostar de dedos em seu ombro a fizeram acordar: era hora da Cinderela ir para casa. Carregou consigo o nome do garoto, deixou com ele um pedaço seu.

Saiu pela porta da frente, novamente. Seu coração apertado suplicava um pouco mais, a razão já não importara. Com ela ficou a certeza de que seria com ele que iria sonhar.