terça-feira, 20 de julho de 2010

Adeus

- Um brinde, meu caro espelho. À nosso primeiro mês de solidão. Levantei a primeira taça da minha segunda garrafa de vinho enquanto olhava as marcas deixadas em meu rosto por uma leve mistura de lágrimas e delineador preto.

Um mês. Trinta longos dias desde que ele partira. Como eu pude? Como? Qual é o meu problema? Por que eu não cuidei dele melhor? Eu sabia do seu longo histórico de doenças, sabia que este dia chegaria. Eu temia isto.

Ainda me lembro do seu rosto pálido e seus lábios – antes tão vermelhos e vivos – sussurrando alguma coisa que pensei ter sido “seja forte”. Ainda lembro-me bem de seus olhos fechando vagarosamente, como se quisessem dormir para sempre. Como se precisassem fechar, como se já não houvesse força nenhuma naquele corpo para mantê-los abertos, vivos, serenos, cheios de paz.

- Do que adianta, não é? Irá chorar agora, você tem certeza que irá fraquejar? Ele mandou você ser forte. Seja forte!

Foram minhas últimas palavras antes de atirar a taça no chão, deitar sobre a velha cama onde ele havia partido e chorar.

De nada importava a vida. Certamente as paredes não contariam para ninguém este meu momento de fraqueza. Eu precisava disso. Necessitava deste choro como se fosse o único modo de me manter viva. Me sentir viva. O único modo para mostrar para as cortinas – que neste momento tampavam o indesejado sol – que eu estava viva. Que havia um milhão de motivos para eu continuar com a vida. Um milhão de motivos que algum dia eu descobriria. Sem cessar eu buscaria um destes motivos.

Ps: Desculpe, eu não posso desistir.

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