sábado, 23 de janeiro de 2010

Meu nome é ninguém

Vagando pelas ruas escuras, postes capengas, luzes piscando. Vagando atrás de respostas para suas perguntas, vagando atrás de algum sentido para continuar onde está.

É fácil perceber a forma despedaçada que me encontro neste momento, é fácil não saber como e nem porque devo me reerguer. Seria mais conveniente, para mim, deitar e esperar que algo me levasse embora. Seria mais conveniente se eu olhasse da janela a vida passando, seria mais fácil.

Mas, ah! Por que o ser humano gosta tanto dos desafios? Por que o ser humano não é capaz de fazer sempre o mais simples? Eu me levantei. Eu fui atrás. Eu fui atrás da vida, de você.

Se algo der errado, mais uma vez, eu continuarei a vagar. Não há como achar uma direção, é muito triste seguir sozinha, é muito difícil enxergar através dos olhos injetados e da silenciosa e fatal escuridão. No meu caminho eu vejo uma rosa sem pétalas, e ela parece precisar tanto de ajuda.

Nós fazemos uma vida dura, nós seguimos as modas, rotulamos as pessoas. Nós fazemos uma vida vazia, nós jamais teremos alguém do nosso lado. Não enquanto respirar doer tanto. Não enquanto viver a vida queime. Não enquanto meus textos forem tristes e estranhos, não enquanto a dor de cabeça me matar aos poucos.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Baby bye bye

De frente ao espelho indaguei com palavras trêmulas, ensaiei um discurso - algo muito clichê, "não vá embora, eu te amo" -, mesmo sabendo que ao te ter por perto esqueceria até quem sou.

Respirei, deixando o meu reflexo ser substituído por uma neblina. Enquanto a imagem voltara a ficar clara, limpei os últimos vestígios de lágrimas deixadas no canto de meus olhos. Saí.

Os pingos da chuva calma de outono não me abalaram, logo eu já estava vendo o sorisso amarelo do cobrador do ônibus para mim. Tentei retribuir, mas pela sua expressão ele pôde ver a dor do meu sorriso falso. Dei meu lugar à um homem grisalho, portador de uma bengala e um gato malhado. Logo estara em meu destino.

Deixei o ônibus partir e, sob passos lentos, caminhei até a velha casinha no fim da rua. Abri o portão e me deparei com a dor das palavras. "VENDE-SE" era o que estava escrito em uma placa enferrujado, cravada sob a grama verde bem cuidada.

Os passos, uma vez lentos, agora eram urgentes e, logo, meus pulsos estavam sendo arremessados na porta. Uma, duas, três vezes...Nada. Olhei através da janela, já sem cortina: Nada. A casa estava vazia, ele havia ido embora. E minha esperança também.

Caí sob a soleira, agarrei meus joelhos com toda pouca força que restara em meus dedos. Os soluços do meu choro fizeram eco em meio a rua. Pigarreei para tirar o nó que havia se formado em minha garganta. Em vão.

Eu estava sem proteção, sem chão, sem ar. Uma criança sem a mãe, uma nuvem preta sem chuva. Eu era um alvo fácil naquele momento, já que tudo em mim gritava "frágil". Não importava, assim como todo o resto. Meu único, triste e definitivo desejo era a morte. Mas ela não haveria de chegar para mim, me fazendo sofrer com a dor dos dias lentos de outono, inverno, primavera e verão.

Êxtase

Fechei as cortinas, tranquei a porta. Com os fones já em meus ouvidos decidi aumentar o volume até que meus tímpanos reclamassem. Me concentrei nos sons da guitarra, tentei acompanhar a melodia, cantarolei com o vocalista - tudo para não lembrar de você. Em poucos segundos a parede lilás do meu próprio quarto me entorpeceu. Funcionou. Eu dormira sem seu rosto cravado nos meus mais sórdidos pensamentos.

Estava escuro e frio. Passei a palma de minhas mãos sobre meus ombros gélidos enquanto caminhara à procura de alguém. À sua procura. Senti um toque em minha cintura, um suspiro quente e doce tomou conta do meu pescoço e, então, tomou conta de cada movimento de meu corpo. Em um segundo já estava frente-a-frente, cara-a-cara, corpo-a-corpo com o meu pedaço do paraíso.

Ele estara estúpidamente, absurdamente lindo. Seus olhos azuis refletidos aos meus formavam um brilho diferente de tudo. As costas de minha mão, agora, alisavam cada traço do seu rosto desenhado por Deus. Quando tentei questionar, ele se aproximou. Cada segundo que passava, um pouco mais perto...E eu me senti dominada pela paixão momentânea, até ser interrompida. Maldita realidade, maldita claridade!

Nenhuma pergunta, nenhum toque em meus lábios. A vida real resolveu me alertar que já havia sol por de trás da cortina sem blecaute. E, mais uma vez eu estava chorando por um sonho mal acabada. Um sonho chamado você.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Uma única gota

Tinha tudo para ser o começo de, se não um bom, um dia normal. Sem risos, mas também sem choros. Sem pulos de alegria, mas também sem vontade de sumir.

O céu estava livre de nuvens, parecia ter sido pintado pro um aquarela azul-claro. Meu relógio marcara oito horas da manhã, mas isso são apenas detalhes. Eu quero chegar à lágrima mal-criada.

Eu estava sentada na ponta de minha cama, tentando pegar alguma energia que a luz do sol pudesse me trazer, quando fui entorpecida por uma cascata de pensamentos, - hora bons, outra nem tanto. Segurei todas as emoções que estas lembranças me trouxeram, ou melhor, tentei segurar.Uma lágrima travessa saiu do meu controle, percorreu todos traços e defeitos do meu rosto para, após segundos, morrer em meus lábios.

Neste dia descobri que lágrimas possuem vida. Algumas delas vivem por muito tempo presas, trancadas sob domínio de púpilas carrancudas, que não as deixam sair por nada. Outras vivem por dias molhando rostos, caindo compulsivamente.

A minha lágrima teve vida curta, menor do que a de uma pobre borboleta, que passa suas vinte e quatro horas de vida enchendo nossos olhos com suas cores. Mas trouxe consigo emoções que eu tentara, de todas as maneiras possíveis, esquecer. Em vão. Nem o mais belo dia de primavera afastara de mim lembranças tão doloridas e gostosas de se sentir. E, logo, amigas de minha lágrima travessa dominaram cada canto do meu rosto.