quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Raiva Escrita

Há quem diga que tudo flui ainda mais fácil quando se está triste. Acredito nisso apenas pelo fato de só conseguir escrever quando sinto meus olhos marejados com aquelas lágrimas que gosto de chamar de saudade... Só por isto, nada mais flui melhor em mim quando estou triste. Nada.

Decidi, então, acumular raiva. Muita raiva. Decidi ter os olhos vermelhos e as mãos trêmulas somente por lembrar de atitudes tuas que me enfureceram. Atitudes que me fizeram amar-te menos. Atitudes ruins. Extremamente ruins e desleais. E aí então peguei lápis e papel.

A ponta do lápis afundava no delicado papel a cada ponto colocado. Não tive pena, continuei a escrever até que me dei conta do papel rasgado. Dei de ombros. Continuei escrevendo até que senti escorregando por minha bochecha uma lágrima. Lágrima de raiva. Sorri e continuei.

O texto já não tinha sentido algum. Ficou feio, frio, com vírgulas demais e pontos de menos. Entristeci. Como pode uma raiva tão bela acabar se tornando um papel amassado, rasgado e sujo?

Os olhos já haviam mudado de cor, já não tinha neles aquele tom avermelhado que antes me alegrou. Agora eles estavam cinza, entreabertos e marejados. A tristeza havia voltado, era hora de escrever.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

- Por que você não escreve poesias, poemas? Aquele monte de palavras que, de alguma maneira, rimam no final...Mesmo que não tenha sentido!
- Não faz meu estilo.
- Seus textos não tem sentido.
- Mas não rimam.
- Por que você não tenta? Sabe, às vezes é bom ten...
- Porque seriam prosas inacabadas e todas com um único assunto.
- Que assunto?
- Você.
"Venha que o amor tem sempre a porta aberta, e vem chegando a primavera...Venha que o que vem é perfeição".
Não, não venha. A primavera está chegando e, com ela, está vindo minha vontade de viver. Está vindo a sede pela substância capaz de fazer com que eu me sinta bem. De bem. De bem comigo mesma. De bem com a vida. Com o mundo...Com minha doce solidão. Não venha estragar isto.

Não me apareça com tuas metades retorcidas e com seu sorriso torto que - antes - me deixava tonta. Não me apareça por aqui tentando fazer com que eu respire esse amor que já não é mais meu. Só não apareça para sangrar ainda mais a ferida que está tentando ser cicatrizada.

Não a cutuque, não zombe dela - não zombe de mim, dos meus textos e da minha crise existencial. Sei que existe toda aquela graça de me ver sofrer e ver o quanto sou capaz de lhe amar, mas por favor, chega de piadas. Principalmente daquela que você gosta de chamar de...
- Indiferença?
Isto, exatamente! É a piada que mais me atinge. Chega dela, isso...Isso mesmo! Chega dela.

Um Encontro Com A Morte

Era estupidamente terrível ver aquela garota jogada ao chão. Era desnorteante ver seus olhos cansados de tantas lágrimas, mas era ainda mais assustador ver como aquela garota gritava por meu nome, como se apenas eu a pudesse ajudar.

Eu tentei de todas formas compatíveis com minha função ignorá-la. Como era possível uma garota tão linda quanto aquela chorar e implorar por minha presença? Eu não era nada, ela iria conseguir se reerguer e ter um destino melhor. Por que, então, ela não enxergava isto?

A garota continuava lá jogada ao chão, soluçando e buscando um pouco de ar para seus pulmões já fracos, cansados de tantos suspiros. A garota continuava lá com sua maquiagem borrada sem nem se quer fazer esforço para buscar uma nova solução. Ela repetia para si mesma: "eu já tentei, juro que tentei...Venha me buscar".

Às vezes não gosto do papel que tenho de exercer, são em horas assim que penso porque tive de ser eu a fazer algo com essa garota. Eu não queria! Por que ela havia de querer? Não era a hora de eu ir até ela e buscá-la, e trazê-la para perto de mim, não era. Por que ela tinha de querer apressar as coisas?

Fingir que ela não me chamava já era em vão, seus gritos ecoavam por meus ouvidos e era quase impossível fazer outra coisa a não ser prestar atenção nela. Tive de fazer o que ela me pedira, me implorara, me suplicara. Tive de ir até ela e estender minha gélida mão mesmo contra minha vontade.

- Pronto, minha querida, estou aqui. Desculpe minha demora, podemos ir agora? Prazer, meu nome é Morte.

Tempo Pt. 2

Tempo, passou da hora de me surpreenderes. Me pregue uma peça - boa ou ruim. Tempo, por que pareces não passar? Por que ages desta forma, me faz sangrar? Tempo, não me desespere, apenas passe. Por que me feres, coisa inútil? Por que teus ponteiros entram dentro de minhas veias e acabam jorrando sem cessar meu sangue, minhas esperanças?

Já quis que tu parastes, quanta ironia, não é? Hoje tudo que quero é que tu vá cada vez mais depressa...Vá de uma maneira que leve embora toda e qualquer tipo de memória que ainda me fere a alma. Ah, minha alma...Antes tão reluzente, hoje está virada em pó. Em algo sombrio, triste, amargurado e tudo por sua culpa, querido Tempo, que insiste em não passar, em congelar, em regredir à lembranças tão congestionadas.

Até quando isto vai durar? Quanto mais terei de esperar? Estou tão esgotada de sacrifícios que tu me opõe, tão cansada de arrumar forças de lugares que já nem sei de onde são. Tão cansada de você, de mim...Da falta de mudanças. Anda, Tempo, leva embora o que me amargura e, por favor, traga de volta minha alma colorida.