segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cinderela

Era sábado à noite, uma das noites mais esperadas para aqueles acostumados a sair. A noite mais aguardada para esquecerem os problemas dos cinco dias antecedentes. A noite que, por muito tempo, foi aguardada por aquela menina. “O começo de sua adolescência” à diziam. Ela finalmente se enxergaria como normal aos olhos alheios. Ela sairia.

Delineador nos olhos, vestido preto e a garotinha da mamãe já não parecia mais tão inha. O sorriso no seu rosto entregava toda ansiedade que ela sentira, seus olhos entregavam a satisfação do jeito como ela estava. Fazia tanto tempo que não sorria para o espelho.

Finalmente chegou. O relógio marcava 22h30 quando ela entrou pela porta da frente. Fitava tudo com cuidado, maravilhada com cada detalhe. A música ainda estava baixa e, sentada no sofá com três amigas, ela ria de algo que não consigo lembrar.

Meia noite. Agora, com a música alta e o banheiro protagonizando a cena de uma garota bêbada, o jeito era dançar.

Cantava as músicas que sabia, dançava no ritmo das que nunca ouviu, e foi assim até seus olhos encontrarem o que ela não procurava.

Ficou difícil acompanhar o ritmo, ela já havia esquecido todas as letras decoradas, e respirar parecia ser impossível. Ele era lindo.

Por mais que a garota procurasse, ela já não via suas amiga. Ela não conseguia ver mais ninguém. Seus olhos inconsequentes não desgrudavam do garoto e, quando ele olhou para ela, a garota não se conteve. Sua nuca arrepiou e seus lábios, como em câmera lenta, formaram um sorriso.

O tempo ia passando, nenhum garoto naquele lugar era mais bonito que ele. As músicas acabavam e começavam – feito um ciclo -, as luzes piscando já não a incomodavam como antes. A única coisa que a perturbava era a forma tão intensa que ela queria aquele garoto.

2h45 da manhã. Aconteceu. Ele sussurrou – ou talvez até gritou – seu nome perto do ouvido da garota, e isso explica o porque do arrepio voltar. Seus lábios delicadamente, e sem acompanhar a música barulhenta, tocaram os da garota e, a partir dali, toda aquela noite fez sentido para ela. Nunca pensara que um sábado à noite pudesse trazer tanta magia.

3h38 da manhã. Um encostar de dedos em seu ombro a fizeram acordar: era hora da Cinderela ir para casa. Carregou consigo o nome do garoto, deixou com ele um pedaço seu.

Saiu pela porta da frente, novamente. Seu coração apertado suplicava um pouco mais, a razão já não importara. Com ela ficou a certeza de que seria com ele que iria sonhar.

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