sábado, 22 de maio de 2010

Me and U

- Moça, por favor, a senhora está aqui faz duas horas.
- Só mais um segundo, ele vai chegar. Eu sei que vai.
- A senhorita não gostaria de tomar nem uma água?
- Isso fará você me deixar sozinha? Se sim, por favor, sem gás.
E assim saíra da minha frente aquela imagem de um típico garçom de botequim.

Chamo-me Roberta, tenho 22 anos e sabia muito bem que ninguém viria. Afinal, quantos bares com garçons inoportunos o Rio de Janeiro possui? Aliás, será que ele já havia voltado pra cá? E será que era mesmo este bar que ele vinha com os amigos há seis anos atrás?

Por um segundo me dei ao privilégio de esquecer que estava em um lugar público e de que havia várias pessoas ao meu redor e pus as mãos nas bochechas para limpar as silenciosas lágrimas. Será que ele me esquecera, ou será que ainda sonha comigo nos tempos livres?

Viver não tinha mais muito sentido desde que decidimos que o melhor para ambos seria esquecer algo que jamais daria certo. Viver não tinha mais sentido desde que, por acreditar que havíamos crescido, deixamos de lado o mais sincero sentimento.

- Aqui sua água, moça. Sinto muito por ter aborrecido.
- Ah, obrigada. Tudo bem.
Será que uma gorjeta o faria me deixar sozinha? Não, a errada era eu. Aquele lugar poderia ser ponto de encontro para tudo, menos para uma pessoa que precisava chorar.

Resolvi sair dali, para isto tive que esbarrar em duas pessoas e ouvir duas buzinas até, finalmente, estar tocando na areia fofa à beira mar. Andar mais um pouco me faria bem, estava mais do que na hora de enfrentar aquele lugar que tanto sonhei ir junto dele.

Um emaranhado de pedras que, mesmo com a escuridão da meia noite, era surpreendentemente maravilhoso. Será que este ainda era seu lugar preferido? Será que alguma vez ele pensou em mim sentado neste mesmo lugar? Só por precação resolvi tocar com toda delicadeza que nunca tive nas pedras e, por ironia ou fantasia demais, sorri.

Talvez a vida seja realmente injusta, ou ela simplesmente não goste de pessoas sonhadoras, mas eu continuaria sendo uma. E, para provar isto a ela, continuaria a procurar por seu sorriso em cada canto desta imensa e turística cidade, mesmo que, para isso, houvesse de pagar gorjetas para muitos garçons.

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