quinta-feira, 1 de abril de 2010

Natal

A chuva cai por de trás do vidro, os relâmpagos formam no céu um espetáculo parecido com fogos de artifícios brancos. Tão belos seriam se não fizessem tanto estrago. A chuva cai por de trás do vidro e com ela caem ideias. Minhas ideias, minhas inspirações. Tudo jogado no chão, tudo em uma grande poça.

Hoje seria um dia chuvoso normal, tirando o fato de ser 24 de Dezembro, véspera de natal. A época do ano em que não preciso de um motivo maior para sorrir, a única época do ano em que não preciso.

São duas horas da tarde, e o cheiro da ceia que mamãe prepara começa a se entranhar pela casa, fazendo meu estômago criar vida. São duas horas da tarde e eu, ao invés de ajudar com a sobremesa, estou trancada em meu quarto, abraçada a um pedaço de papel amassado e uma caneta BIC que já falha pela terceira vez.

Não sei o que aconteceu, mas está véspera de natal me deixou nostálgica. Me fez lembrar de todo um passado, até mesmo dos momentos em que lutei para apagar. Nem o cheiro delicioso e as risadas empolgadas vindas da sala me fizeram ter vontade de sair e me divertir também.

Que triste falar assim. Que triste é ser triste em uma época onde, em todos os cantos do mundo, há risadas e sorrisos nos rostos. E por que eu? Por que escolher a mim, tristeza? Por que justo na época em que eu mais gosto? Ou gostava.

Tudo bem, daqui a pouco todos irão se reunir embaixo da árvore, trocarão presentes e meu irmão irá perguntar como papai Noel adivinhou exatamente o que ele desejou durante o ano. Eu irei sorrir para ele, em troca ele me mostrará a língua e mamãe irá intervir com uma de suas frases clichês: não briguem pelo menos hoje, é natal.

O natal é maravilhoso, mas esta chuva me atrapalhou. Atrapalhou o que eu planejei dura o ano inteiro, atrapalhou a felicidade que o natal trazia consigo, atrapalhou pelo menos para mim.

Eu sei como este dia irá prosseguir: ficarei mais duras horas olhando para meu espetáculo particular de fogos, limparei as lágrimas no canto dos meus olhos, lágrimas estas que o relembrar me trouxe. Sairei do quarto com um sorriso forçado, sorriso este que se tornará sincero quando toda a família sentar no sofá e começar a contar como meu primo nasceu, e que naquele horário, há tantos anos atrás, todos estariam passando o natal no hospital, rezando pela sua chegada triunfal. Terminaremos nosso natal rindo da cara do vovô e das palhaçadas que ele faz por beber uma dose a mais de vinho, ficaremos assustados quando vovó ficar nervosa e começar a tossir. Mas no fim, não tão esperada meia noite, todos irão se abraçar e eu sentirei o amor transpirar por mim e por todas as pessoas queridas ali presentes.

E eu sei o porquê de estar "menos feliz" do que nos natais antecedentes, mas as linhas deste meu rascunho estão no fim e falar sobre isso acabaria me deixando mais de duas horas a admirar o céu. Céu este que eu trocaria para estar em outro lugar: nos teus braços. Braços estes que eu desejei com todas as forças que estivesse por perto pelo menos hoje, ao menos agora que tanto preciso... E o papel, uma vez apenas amassado, agora está borrada por minhas lágrimas natalinas.

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