segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Angústia


Está tudo escondido, tudo em caixas, malas, lençóis. Está tudo bagunçado, eu estou indo para algum lugar e não sei se serei feliz. Eu estou abandonando dois anos da minha vida neste pequeno apartamento, nesta pequena cidade, neste pequeno bairro. Eu estou deixando pra trás lembranças e uma parede lilás mal pintada.

Tive de trancar a porta, pela última vez. Um último suspiro e dei adeus para aquele apartamento que foi, para mim e para minha mãe, o começo de uma nova vida. E agora? Para onde vou?

Tenho em mim algo chamado angústia. Não sei ao certo se é um sentimento, é receio, é medo do novo, do diferente, da mudança.

Esta angústia tem me dado trabalho, confesso. Lágrimas são jorradas de meus olhos todos os longos dias, lágrimas em silêncio. Tenho tido vontade de gritar, de jogar tudo pro alto, de desaparecer. Tenho tido medo, muito medo. Muito choro. Muito aperto incontrolável no coração, até parece sintoma de enfarte. Muita mudança.

- Lugar bonito – sussurrei ironicamente para mim mesma antes de entrar.

Passei a mão por uma caixa que dizia “quarto da Roberta” e um suspiro de dor profunda tomou conta do silêncio da casa vazia.

Quis fechar os olhos, quis voltar correndo pro costume da antiga casa, quis chorar, quis deitar no chão frio e esperar até que a angústia fosse embora. Nada disso foi feito.

- Eu estou aqui com você – uma voz baixa de compreensão tomou conta do silêncio que seria quebrado, até instantes atrás, pelo meu choro.

Era verdade. Ele está do meu lado, pronto para me acolher em seus braços a qualquer momento, pronto para me resgatar do receio, pronto para fazer-me feliz a qualquer momento, em todos os momentos.

Nada foi dito depois de sua frase, o único gesto que tive forças para fazer foi abraçá-lo com toda força que tinha e deixar as marcas de lágrimas em seu ombro.

Talvez isto seja o amor. Essa confiança tremenda, esta capacidade tremenda que ele, e só ele, tem de fazer-me esquecer de tudo para horas de alegria, de amor, de companheirismo, de felicidade verdadeira. De tudo verdadeiro, tudo mesmo.

Talvez esta seja a verdade: amor verdadeiro realmente acontece só uma vez, e para mim aconteceu aos 16 anos, e por você.

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