sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Mais uma dose mortal de fantasia


Eu estava frente a frente com o espelho, respirando e soltando o ar como em muitas aulas de educação física fui ensinada. Eu estava nervosa, isto era óbvio. Era perceptível até na minha fala. Foi quando ele chegou.


Suas mãos tocaram meus ombros e, em um gesto de carinho ou encorajamento, apertou três vezes as pontas dos dedos sob meus ombros tensos.


- Está nervosa, minha filha?

- Um pouco, papai. Um pouco.


Ele me virou pra frente dele e deu o meio sorriso que eu mais gostava. Eu adorava ver como os fios grisalhos de seu bigode se moviam, eu ria e ele sabia bem o motivo.


- Você vai passar, ande. Me de um abraço e vamos para o carro.


Foi quando ele abriu os braços e eu me aconcheguei, foi ali que ele começou a cantar a canção de ninar que havia feito para mim quando eu ainda era um bebê. Como eu amava ouvir sua voz cantando para mim. Sua maravilhosa voz desafinada de pai.


Seguimos viagem até o colégio. Os corredores pareciam longos demais e, em nenhum minuto, ele saiu do meu lado.


Corri até o mural verde-musgo onde estava a folha dos aprovados. Driblei inúmeros estudantes. Alguns comemorando, outros chorando e já pensando no ano que vem.


Meu nome estava lá. Lá em cima, bem no alto. Eu sorri e gritei, aquela figura maravilhosa já estava à minha espera. Novamente de braços abertos, novamente formando o meio sorriso.


- Obrigada, papai. Obrigada por mais uma vez estar em um momento decisivo da minha vida. Eu lhe amo, senhor Roberto. Lhe amo de toda alma!



É, pai, como eu gostaria que tudo isso fosse real. Eu sinto sua falta.

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