quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A última dose

Pai, eu gostaria que a vida tivesse nos dado mais uma chance. Pai, eu gostaria de poder tirá-lo para dançar na minha valsa de 15 anos que jamais existiu. Pai, eu gostaria que você pudesse me segurar no colo uma última vez e me fazer dormir, como se eu fosse um bebê sem proteção.

Pai, eu gostaria de vê-lo trocar de canal uma última vez, me fazendo te xingar e, em seguida, adorar o filme que você escolheu. Pai, eu gostaria que suas batatas fritas mal cortadas fossem meu almoço de amanhã. Pai, eu gostaria de ouvir mais uma vez sua voz, mas, por favor, sem lamúrias. Só um eu te amo me bastaria.

Pai, lembra de quando eu era criança e de como tu se orgulhava quando falavam que eu era parecida com o senhor? “É o mesmo nariz”, diziam. E era o que lhe bastava para abrir um sorriso. Pai, eu sei que não fui sua primeira filha, e que você queria um menino em meu lugar. Mas eu sei também que você era super-protetor, sei que eu era sua bonequinha, sua caçula e sua preferida. Eu sei que você se apaixonou por mim, mesmo eu não sendo seu futuro atacante do grêmio, como eu também me apaixonei por você.

Pai, olhe para mim se puder, eu cresci. Eu sou tudo aquilo que você imaginou? Eu estou correndo atrás dos meus sonhos, pai. Isso lhe orgulha? Sonho com algo surreal, pai. Isso faz de mim uma insana? Você acredita em mim? Eu só gostaria de lhe dizer uma coisa, para enfim cessar todo e qualquer texto que te envolva: Eu sinto sua falta.

Um comentário:

  1. Oie!!
    Encontrei teu blog no twitter, li, gostei muito!
    Escreve bem, A ULTIMA DOSE é um texto que me toca muito!Beijo

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